Facto e Valor (âmbito e organização conceptuais)

Quando decidimos fazer algo de forma consciente e justificada, acabamos por estar a realizar uma escolha, acabamos por mostrar uma preferência. Preferimos uma coisa a outra. Os motivos em que nos apoiamos poderão ser factos, mas têm sempre por detrás valores que alicerçam a nossa preferência.
Se um facto é algo que pode ser comprovado, algo que identificamos como verdadeiro ou falso, já um valor é um critério que demonstra o quanto valorizamos ou desvalorizamos uma coisa; justifica e até motiva as nossas acções. Ao contrário dos factos, que se apresentam como universalmente consensuais, os valores limitam-se a grupos: não possuímos os mesmos valores e não valorizamos as coisas da mesma maneira. Os valores não são coisas, mas conceitos que mostram as nossas preferências.
Existe uma enorme diversidade de valores que podem ser organizados da seguinte forma:
-Valores éticos - tratam das normas e/ou critérios de conduta: verdade, bondade, solidariedade...
-Valores estéticos - tratam de normas e/ou critérios do belo, feio, sublime...
-Valores religiosos - tratam de critérios da relação do homem com o transcendente: sagrado, pureza, perfeição...
-Valores políticos - tratam de normas e/ou critérios que regulam a sociedade enquanto organização: justiça, cidadania, liberdade...
-Valores vitais - tratam de critérios de ordem biológica e mesmo psicológica: saúde, força, dinamismo...
É claro que não atribuímos aos nossos valores a mesma importância - quando temos de tomar uma decisão, hierarquizamos os valores de diversas formas: subordinamos uns a outros, isto é, colocamos em primeiro lugar os mais valiosos e só depois os que nos parecem menos importantes.
Se existe a possibilidade de organizarmos os valores por áreas e por ordem de importância, também poderemos distribuí-los por oposição ou polaridade. Opomos a verdade à mentira, a justiça à injustiça, o bem ao mal. Embora a palavra "valor" costume ser aplicada num sentido positivo, vamos considerar valorável quer o positivo quer o negativo. A fim de tornar clara a linguagem, chamaremos valor por exemplo ao "bem" e contra-valor ao "mal", embora sabendo que ambos são valorizações e, portanto, valores.
F.Lopes