A Religião e os valores

"Aos valores religiosos não adere nenhum dever-ser. Não são valores de um dever-ser mas de um Ser, como refere Hessen em "Filosofia dos Valores". Nisso se afastam dos valores éticos, para se aproximarem dos estéticos. No entanto, a realidade do sagrado não é, como a do belo, apenas uma realidade aparente, mas uma realidade no mais eminente sentido desta palavra: o sagrado/divino é, ao mesmo tempo, valor e ser."
 in agora-m.blogs.sapo.PT
 
Deveremos começar por definir a religião como um conjunto de crenças e práticas referentes ao sobrenatural, quase sempre organizadas como doutrinas, seguidas por uma comunidade de crentes que agem em busca de uma salvação e ou libertação, projectando os seus valores a toda a humanidade.
A expeirência religiosa surge essencialmente de duas fontes: a sociedade e a consciência. O meio em que nascemos marca-nos de forma muito clara bem como a consciência da nossa finitude nos diversos níveis, podendo despertar-nos para uma outra dimensão da realidade, o Transcendente. Esta experiência cria uma ligação profunda e envolvente com o Sagrado, sendo este a marca fundamental deste tipo de experiência. O Sagrado corresponde a uma realidade perfeita, divina e oposta à profana. Desperta no crente respeito e até mesmo em alguns. medo. O profano corresponde ao mundo natural, sendo uma realidade criada.
A crença ou a fé são tomados com frequência como valores religiosos mas não devemos esquecer que correspondem essencialmente a um tipo de atitude perante o Sagrado. As crenças estão materializadas em mitos em forma escrita ou não, apresentando uma concepção particular do sagrado, definindo os seus poderes e exaltando as suas virtudes. Tentar racionalizar uma crença é quase sempre destruír sem conseguir compreender pelo que a opção pelo silêncio em relação a essas temáticas pode ser entendida como respeito. A crença permitiu ao Homem suportar não apenas sofrimento e injustiças mas também lhe promete uma recompensa após a morte. O que para uns é "ópio do povo" para outros transforma a realidade caótica num mundo com sentido.
Através dos ritos evocam-se acontecimentos sobrenaturais ligados à origem do mundo e ou da própria religião. A repetição dos ritos deve-se a uma concepção cíclica do tempo (eterno retorno) sendo uma "actualização" desses acontecimentos: repetem-se gestos e ou pronunciam-se palavras que evocam realizações da divindade. Sendo os rituais testemunhos públicos das crenças, ao praticá-los reforça-se a unidade dos crentes.
As comunidades religiosas sendo comunidades morais, partilham as mesmas normas de conduta, modelos de vida e evitam praticar o "pecado" - em última análise o "afastar-se" das normas divinas. A salvação está pois dependente do cumprimento destas leis. No ocidente, e em particular na Europa, será inútil negar a dominância na nossa moral da matriz da moral religiosa Judaica-Cristã que de forma positiva e ou negativa acaba por orientar as condutas na nossa sociedade.
F.Lopes